Muitos dos exames que fazemos estão, na verdade, atrasados em relação ao diagnóstico do câncer. Alguns pacientes têm a “sorte” de identificar a doença no início, e outros apenas a partir de sintomas, o que, geralmente, significa que o tumor já está avançado e até com metástases (acometendo outros órgãos).
Este artigo tem o objetivo de descrever em linhas gerais quais são o testes mais utilizados para o diagnóstico dos tumores, o que é muitas vezes guiado por sinais e sintomas da doença.
O tipo de câncer, assim como a parte do corpo que ele afeta, vão guiar o médico sobre qual teste pedir, inclusive influenciando na decisão do tratamento que vai ser utilizado diante do quadro que se encontra o paciente. Muitas vezes esses testes são usados de modo antecipatório, diante, por exemplo, de pacientes com risco aumentado para determinado tumor, seja por idade, hábitos ou história familiar.
Autoexame
Os autoexames são essenciais para a saúde individual porque possibilitam o diagnóstico de muitas doenças, incluindo o câncer. Mulheres devem examinar as mamas com certa periodicidade por exemplo (Veja a Tabela 1).
Tabela 1 – Importância do Autoexame
Câncer de Mama | As mulheres devem realizar o autoexame das mamas a cada 2-3 meses, em busca de alteração de textura ou alguma irregularidade. |
Câncer de Testículo | Homens da mesma forma, devem palpar os testículos com certa frequência para avaliar mudanças do tamanho, forma ou textura. |
Câncer de Pele | Alterações na superfície da pele, lesões que não cicatrizam, nódulos e pintas enegrecidas devem ser identificadas, incluindo plantas dos pés e palma das mãos. |
Caso o paciente perceba algo dos achados citados, um médico deve ser consultado.
Existe uma premissa em oncologia: DIAGNÓSTICO PRECOCE, AUMENTA A CHANCE DE CURA. Isso é verdade para a maioria dos tumores, e a realização de exames deve ser estimulada com esse objetivo, mas com cuidado.
O autoexame de mamas não substitui em nada a mamografia, já que esta última consegue identificar o tumor de mama em fases mais iniciais que o autoexame.
Exames de Sangue
Muitos desses exames, também chamados de “exames laboratoriais”, dão sinais indiretos de que existe algum problema, ou são usados com outros objetivos, que não o diagnóstico de câncer. Quando estamos investigando algum sinal clínico, como cansaço por exemplo, e pedimos um hemograma porque estamos em busca da confirmação de anemia. Um certo grau de anemia em mulheres é aceitável, já EM HOMENS podemos dizer que ANEMIA É SINAL DE DOENÇA! Afinal, homens não menstruam, não é mesmo.
Podemos solicitar também alguns marcadores tumorais. Estes são substâncias produzidas pelo tumor e que ajudam para verificar o prognóstico (como tudo irá acabar) e atuam no seguimento, após algum tratamento por exemplo. Marcadores tumorais NÃO DEVEM SER USADOS para tentar encontrar algum tumor em um paciente assintomático. O uso com este objetivo só atrapalha, já que muitas outras condições benignas podem alterar o valor deles, como por exemplo, uma endometriose que aumenta o CA 125.
O médico deve saber por que está pedindo determinado exame. Muitas vezes exames “em excesso” sem um objetivo claro, só confundem o raciocínio clínico e fazem com que você faça mais exames desnecessários.
Exames de Imagem
Exames de imagem servem para visualizar internamente os órgãos ou partes do corpo. Essas imagens podem ser obtidas de várias maneiras e cada uma tem sua utilidade. Muitas vezes esses exames são feitos na fase de estadiamento do tumor, e podem ajudar e muito no diagnóstico. Já outras vezes são utilizados para guiar alguma biópsia (veremos mais a seguir), ou no seguimento, para ver se a doença está controlada ou voltou.
Raio-X
Os exames de Raio-X (Rx) são muito rápidos e indolores. Eles usam baixa dose de radiação e obtém imagens de diferentes partes do corpo, mas são usados mais comumente para visualizar os pulmões, ossos e alguns seguimentos de intestino. Neste último caso, pode se fazer o uso de contraste via oral ou retal. Eles podem identificar nódulos pulmonares, obstrução intestinal, lesões ósseas e fraturas patológicas. Não é incomum, homens idosos fazerem rx para dor na coluna, por exemplo, e se depararem com a presença de metástases ósseas de um tumor de próstata.
Tomografia
A tomografia computadorizada (TC) usa uma máquina de Rx conectada a um computador para tirar várias fotos do seu corpo de diferentes ângulos e depois processá-las em imagens transversais. Como nas radiografias regulares, um contraste pode ser dado a você para tornar as imagens mais nítidas, ou ajudar a ver melhor algum órgão ou estrutura específica. São exames excelentes!!! O grande problema é a quantidade de radiação que o paciente recebe ao fazer uma tomografia. Dizemos que uma tomografia de tórax equivale a cerca de 400 Rx’s!
E se o médico disser assim pra você: Vamos fazer 400 Rx pra ver se você tem câncer, você faria isso todo ano?
Ultrassom
O Ultrassom (USG) consegue formar imagens através da emissão de ondas sonoras de alta frequência. Esse exame pode ajudar a diagnosticar cânceres localizados em áreas que não aparecem claramente nos Rx. USG e Rx são coisas bem diferentes e muitas vezes complementares! O USG também pode ajudar a nós médicos a guiar agulhas durante uma aspiração com agulha durante procedimentos de biópsias tumoral.
Ressonância Magnética (RM)
Assim como as TC’s, uma RM cria imagens transversais do seu corpo. Em vez de usar Rx, as RM’s usam campos magnéticos e ondas de rádio para criar imagens de alta resolução.
As RM’s também podem ajudar a determinar se o câncer se espalhou (metastizou) para outras partes do corpo, avaliar resposta ao tratamento ou diferenciação entre tipos de tecidos (por exemplo gordura ou músculo) através de softwares de leitura de suas densidades.
Mamografia
O câncer de mama pode ser detectado com um tipo de Rx chamado de mamografia. As máquinas de mamografia são projetadas especificamente para examinar anomalias no tecido mamário.Antes de fazer uma mamografia ou qualquer outro tipo de Rx, informe ao seu médico se houver alguma chance de você estar grávida.
Dependendo da área do seu corpo que precisa ser radiografada, pode ser necessário tomar precauções especiais para evitar ou reduzir a exposição fetal à radiação.
Exames de medicina nuclear
Esses exames ajudam aos médicos a encontrar tumores através da pesquisa do metabolismo das células cancerígenas, que muitas vezes se reproduzem muito rapidamente e consomem muito açúcar (glicose). Para esse tipo de exames, é necessário a utilização de radionuclídeos (substâncias que você engole, inala ou injeta) que emitem pequenas doses de radiação. O radionuclídeo, também chamado de marcador, se acumula nas regiões de alto consumo de glicose e são captados no exame de TC associado. É o famoso PET_CT.
Não se deve pedir PET_SCAN para tudo! Exames que podem “ver tudo”, são usados de forma errada. Só porque você tem uma Ferrari, não quer dizer que pode sair a 200km/h andando por aí!
Procedimentos de endoscopia
Nos procedimentos endoscópicos, um médico insere um dispositivo semelhante a um tubo em seu corpo para que eles possam ver o interior. O tubo, chamado endoscópio, possui uma câmera leve e pequena acoplada à sua extremidade. São as famosas endoscopia e colonoscopia. São exames muito importantes porque, através deles, vários procedimentos podem ser realizados, incluindo resseção de tumores em sua fase mais inicial.
Biópsia
Para que o diagnóstico de câncer seja confirmado, é necessária a remoção de algum tecido ou células do suposto tumor. Essa amostra é enviada então para um patologista, que visualizará diretamente as células e esse tecido tumoral que é preparada em lâminas para que sejam visualizados em um microscópio. O procedimento de remoção dessa amostra é chamado de biópsia.
Existem muitos tipos de biópsias e que são utilizadas de acordo com o local e tipo de tumor suspeito.
Aspiração por agulha fina (PAAF): Uma agulha pequena, fina e oca é usada para remover células e um pouco de líquido de um tumor. Se o tumor estiver mais profundo, pode se usar o USG ou TC para auxiliar e guiar o procedimento.
Biópsia por agulha grossa (“Core Biopsy”): A agulha usada para a biópsia é um pouco maior do que para a PAAF, mas o procedimento é semelhante. É realizada com anestesia local para ajudar a reduzir a dor. Ela é capaz de retirar uma amostra de tecido, o que é importante para a realização de alguns testes diagnósticos.
Biópsia excisional: Um procedimento cirúrgico no qual a pele é cortada e todo o tumor é retirado. É bem indicado nos casos de biópsia de linfonodos, quando há a necessidade de retirar todo o gânglio para que o patologista possa ver a arquitetura do mesmo, o que é importante no diagnóstico de linfomas por exemplo.
Biópsia incisional: Muito semelhante a uma biópsia excisional, exceto pelo fato de que apenas uma pequena parte do tumor é removida (em vez de remover tudo). É usado em leões grande de pele ou músculo.
Tanto a biópsia incisional quanto excisional podem ser realizadas através dos procedimentos endoscópicos quanto por laparoscopia por exemplo. Podemos retirar pequenas amostras de tecidos tumorais da bexiga, intestino, pulmão e tantos outros lugares para que uma correta decisão terapêutica seja tomada. Nenhum tumor é igual ao outro e são muitos tratamentos o que exige um diagnóstico correto.
Não há como acabar todo o assunto aqui nesta postagem. Em postagens futuras, iremos falar mais sobre esses testes e de como são aplicados na prática para os diferentes tipos de tumor.
Para saber mais sobre o tema ou tirar dúvidas, agende uma consulta agora mesmo!
Escrito por: Dr. Ranyell Spencer MD PhD
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