Doutor, meu tumor está “enraizado?”
Essa é uma pergunta frequente realizada pelos pacientes. Na verdade, o que eles querem saber é se o seu tumor já fez ou está com metástases. Vamos ver neste texto o que são essas metástases, qual o seu significado e como elas ocorrem.
Quando um tumor se dissemina ou se espalha para alguma parte do corpo diferente de onde começou chamamos isso de Metástase. Quando isso acontece nós médicos dizemos que o câncer “metastizou”, ou ainda podemos chamar de “câncer metastático”, “câncer avançado” ou “câncer em estágio IV”. Entretanto, esses termos podem ter significados diferentes. Por exemplo, um câncer que cresceu bastante apenas localmente, mas que não se espalhou ainda para outra parte do corpo, também pode ser chamado de tumor localmente avançado.
As metástases geralmente se desenvolvem quando as células cancerígenas se separam do tumor principal e entram na corrente sanguínea ou no sistema linfático (esses dois sistemas transportam fluidos e sangue pelo corpo); isso significa que as células cancerígenas podem viajar para longe do tumor original e formar novos tumores quando se instalam e crescem em uma parte diferente do corpo, como por exemplo nos pulmões.
Às vezes, as metástases também podem se desenvolver quando as células cancerígenas descamam ou se destacam do tumor principal, geralmente na cavidade abdominal, e crescem em áreas próximas, como no peritônio (camada que reveste os intestino) e se implantam em órgãos internos como o fígado e baço.
Só dizemos que um tumor é maligno se ele tem a capacidade de fazer metástases!
A capacidade de enviar metástase depende:
Do tipo de câncer: Alguns tumores são mais propensos a se espalhar do que outros. |
Quão rápido o câncer está crescendo |
Qual o estágio que o tumor se encontra |
Como está o sistema imune (de defesa) da pessoa com câncer |
O câncer pode se espalhar para quase todas as partes do corpo. Alguns tipos de câncer tendem a se espalhar para certas partes do corpo diferentemente de outros. Vamos ver alguns exemplos: a) O câncer de mama tende a se espalhar para os ossos, fígado e pulmões; b) O câncer de pulmão tende a se espalhar para o cérebro, ossos, fígado e glândulas supra-renais; c) O câncer de próstata tende a se espalhar para os ossos; d) O câncer de intestino tende a se espalhar para fígado, pulmões e peritônio.
Com menos frequência, o câncer pode se espalhar para a pele, músculo ou outros órgãos do corpo, como o pâncreas por exemplo. As células cancerígenas também podem se espalhar para o revestimento ao redor dos pulmões, chamado cavidade pleural. Também pode se espalhar para o revestimento interno da barriga chamado de cavidade peritoneal.
Quando as células tumorais causam acúmulo de líquido na cavidade torácica (dos pulmões) ou cavidade peritoneal (da barriga), são formados os chamados derrame pleural maligno e ascite maligna.
Uma outra pergunta que surge é se metástase é o mesmo tipo de câncer de antes. A resposta é sim. Um câncer que se espalhou para outra área recebe o mesmo nome que o câncer original. Por exemplo, um câncer de mama que se espalha para o fígado é chamado de câncer de mama metastático, não câncer de fígado. Isso ocorre porque o câncer começou na mama e o tratamento usado é para o câncer de mama.
As metástases são investigadas através de testes específicos para isso, como tomografia ou cintilografia por exemplo. Se você já teve tratamento contra o câncer não metastático, provavelmente tem um plano de acompanhamento certo?. Você verá que serão solicitados exames de rotina, mesmo depois que já tirou o tumor principal, durante cerca de 5 anos, periodicamente. Infelizmente, as metástases podem ocorrer alguns anos depois do tratamento inicial. Nesse caso dizemos que houve uma recaída.
Os sintomas das metástases são de acordo com o órgão que acomete. Por exemplo, falta de ar se elas ocorrem nos pulmões ou anemia se ocorre na medula. Às vezes, esses sintomas são o gatilho para que nós médicos solicitemos exames necessários para encontrar as metástases.
O tratamento das metástases depende de alguns fatores como a) Qual a origem do tumor ou “tumor primário”; b) Qual a quantidade de metástases; c) Quantos órgãos estão envolvidos; d) Qual o tempo decorrido entre a retirada do tumor primário e o surgimento das metástases e c) qual o grau de resposta ao tratamento com quimioterapia essas ou essa metástase tem. Importante ressaltar que estudos estão sendo feitos para que se saiba mais sobre como as metástases podem diferir do tumor original, isso em níveis molecular e genético. Esse fato pode direcionar o tratamento de modo distinto para as metástases quando comparado ao tratamento usado para o tumor original.
O tratamento pode incluir quimioterapia ou terapia hormonal. Cirurgia e radioterapia também podem ser opções para alguns tipos de câncer. Nós médicos podemos usar um tipo de tratamento e depois mudar para outro quando o primeiro parar de agir, ou alternar de tempos em tempos. O importante é sempre manter o paciente ciente de tudo que está acontecendo, e compartilhar as decisões, e desse modo realizar melhores escolhas, individualizando ao máximo o tratamento.
É possível viver por muitos meses ou anos com certos tipos de câncer, mesmo após o desenvolvimento de doenças metastáticas.
Em algumas situações, o câncer metastático pode ser curado sim!, mas mais comumente, o tratamento não cura o câncer, infelizmente. No entanto, muitas vezes o paciente convive com a doença por anos e anos. Como se fosse uma espécie de diabetes, que não cura, mas convive com ele. Ao escolher um tratamento, escolha um médico com experiência no tratamento de câncer metastático. Os médicos podem ter opiniões diferentes sobre o melhor plano de tratamento e muitas vezes mais de uma consulta é necessária.
O mais importante é que você saiba qual o objetivo do seu tratamento. Esse objetivo pode mudar durante o seu curso, dependendo da resposta inicial a terapia que está sendo usada. Também é importante saber que dor, náusea e outros efeitos colaterais podem ser manejados com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, onde o médico paliativista tem papel fundamental na melhora da qualidade de vida, apoio a familiares e até sobrevida em muitos casos de pacientes com doença metastática.
Para saber mais sobre o tema ou tirar dúvidas, agende uma consulta agora mesmo!
Escrito por: Dr. Ranyell Spencer MD PhD
- Texto adaptado de www.cancer.net
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