O Câncer de ovário é a segunda causa de tumores ginecológicos no Brasil. Só em 2020 estão previstos em torno de 7.000 novos casos1, com a mortalidade atingindo valores em torno de 50% (mais de 3.500 casos de óbito).
O principal fator de risco é a idade, com a incidência deste tumor aumentando com o avançar do tempo. O risco de câncer de ovário é aumentado em mulheres com infertilidade e reduzido naquelas que tomam contraceptivos orais (pílula anticoncepcional) ou que tiveram vários filhos. Por outro lado, mulheres que nunca tiveram filhos parecem ter risco aumentado para câncer de ovário, com a infertilidade sendo causa importante para essa doença. Por fim, um histórico familiar de tumor de ovário, do intestino e de mama está associado a risco aumentado de câncer de ovário.
A quase totalidade dos tumores dos ovários (95%) é derivada das células epiteliais (que revestem o ovário), e quando essas células caem no peritônio, acometendo outros órgãos, é o que chamamos de carcinomatose peritoneal e existe todo um processo que envolve muitos marcadores celulares para que haja adesão e infiltração dessas células no peritônio e nos órgãos abdominais (FIGURA 1)2. Para as pacientes que têm seu diagnóstico já nessa fase, avançada, com metástases no peritônio, a sobrevida em 5 anos é de apenas 30%. Bem diferente das pacientes que estão em fases mais iniciais, onde esse valor sobre para 60-70%.
O Câncer de ovário é silencioso e não há meios diagnósticos que podem rastrear com eficiência essa doença. Portanto, os sintomas são inespecíficos e muitas vezes são diagnosticados em achados de exames, como Ultrassonografia ou por um desconforto ou aumento do volume abdominal.
Sinais e Sintomas do Câncer de Ovário
Aumento do volume abdominal |
Dor abdominal |
Perda de apetite e de peso, cansaço |
Mudanças hábito intestinal e/ou urinário |
Quando uma paciente tem metástase no peritônio (uma membrana que reveste internamente o abdome e cobre os órgãos ali presentes – FIGURA 2), o tratamento envolve a associação de quimioterapia com cirurgia. Essa cirurgia é chamada de “citorredução”. Pois bem, essa citorredução pode ser primária (quanto é feita no primeiro diagnóstico) ou secundária (quando é feita em uma situação de recidiva da doença).
Uma vez a paciente diagnosticada com doença avançada, a pergunta que se faz é se iniciamos o tratamento com quimioterapia ou partimos para a cirurgia direto, em inglês se diz: “Cirurgia up front”. Recentemente tivemos uma conversa bem interessante sobre isso no Clinical Papers Podcast (um podcast dedicado a discutir artigos científicos sobre temas variados em oncologia), juntamente com outros dois colegas, o Dr. Tiago Biacci e Dr. Reitan Ribeiro, esclarecendo essas estratégias de tratamento. Você pode acessar esse conteúdo clicando aqui.
Mas vamos falar um pouco mais dessa cirurgia. A cirurgia de Citorredução tem o objetivo de retirar toda a doença visível, o que implica muitas vezes na retirada de todo o peritônio e de alguns órgãos internos. Isso vai depender do grau de acometimento desses órgãos. Por exemplo, se não formos capazes de retirar os pequenos nódulos de tumor presentes sobre o cólon, temos que tirá-lo por completo. Isso ocorre porque muitos estudos mostram que o mais importante é retirar totalmente a doença, sem deixar nada visível para trás. Isso tem até um nome: Citorredução CC0.
Muito se questiona sobre a aplicação da quimioterapia hipertérmica intra-peritoneal nesse contexto. É a tão chamada Cirurgia de Citorredução com HIPEC (Hyperthermic Intraperitoneal Chemotherapy). Costumo discutir caso a caso com o oncologista, além de averiguar como está a paciente em tratamento para ver se é possível o uso dessa terapia, tendo em vista que seus resultados são bastante controversos.
Essa é uma cirurgia muito grande que deve ser indicada por profissionais experientes e seja realizada em um centro de excelência, dedicado. Os resultados dependem de muitos fatores, desde a interação entre oncologista e cirurgião, passando por toda uma logística de tratamento que envolve muitos outros profissionais, incluindo médicos de uti, fisioterapeutas, enfermeiras e nutricionistas.
Para saber mais sobre o tema ou tirar dúvidas, agende uma consulta agora mesmo!
Escrito por: Dr. Ranyell Spencer MD PhD
- https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-ovario
- Cancers 2018, 10(9), 277;
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