Não devemos atrasar o tratamento de pacientes oncológicos
Já pensou estar no lugar de um paciente com câncer, que encontra-se na fase de estadiamento (ou seja, fazendo exames para localizar melhor o tumor no corpo) e foi pego de surpresa por essa pandemia? Junte a ansiedade causada pelo diagnóstico e por tudo que ele tem visto na televisão, internet, comentários de amigos e no próprio local onde mora. Difícil não?
Imaginemos agora outra situação: A fase de estadiamento passou e ele está se preparando para uma cirurgia, que muitas vezes tem riscos, inclusive de vida, mas que pode curá-lo. Acontece que, apenas alguns dias antes ou até momentos antes, ele recebe uma ligação do seu médico dizendo que o procedimento foi suspenso, ou postergado, pela preocupação toda gerada por essa pandemia. Riscos pra equipe, e para o paciente! Já pensou no pós-operatório, ele ficar doente por COVID-19?
Com o surgimento e aumento progressivo dos casos de COVID-19, hospitais e médicos têm suspendido muitas de suas cirurgias eletivas, reservando leitos e energia para o atendimento dos pacientes acometidos por essa nova doença, principalmente para os casos onde seriam realizadas cirurgias não oncológicas, como para o tratamento de hérnias, cálculos na vesícula e estéticas. Mas será que isso é válido também para os casos de cirurgias agendadas para pacientes com diagnóstico de câncer?
Muitas Sociedades Médicas, e Especialistas nas mais diversas áreas, têm ditado algumas condutas e discutido meios de prevenção contra o COVID-19 criando fluxogramas de diagnóstico, rotas físicas intra e extra-hospitalares e alternativas clínicas para o tratamento dos pacientes de modo a reduzir os riscos de contaminação e consequentemente o risco de óbito, tendo em vista que os pacientes submetidos a cirurgias, quando contaminados, têm chances altas de progredir com complicações graves e até de morrerem devido a infecção pelo COVID-19.
Além disso, muitas dessas recomendações sugerem que se postergue o tratamento para lesões pequenas ou “menores”, onde se supõe uma menor velocidade de crescimento do tumor, podendo-se esperar para um momento mais seguro e adequado. Em contrapartida, para tumores “maiores”, deve-se agir imediatamente para garantir o sucesso da cirurgia em tempo hábil.
Particularmente questiono esse tipo de posicionamento. Desde quando o tamanho foi algo que se mostrou eficaz em predizer agressividade tumoral? E desde quando operar tumores maiores é mais urgente, tendo em vista que a chance de cura é maior quanto menor o tumor, ou seja, em fase mais inicial? Diante desse cenário, duas opções parecem ser as mais sensatas: 1) Criar vias e fluxos onde o paciente possa ser atendido e cuidado de modo a minimizar os riscos de contágio do COVID-19, a assim por trata-lo independentemente de qual estágio ele esteja; e, 2) Remodelar o tratamento de modo a alterar a ordem das terapias envolvidas, como por exemplo, fazer a quimioterapia ou radioterapia antes da cirurgia, não expondo o paciente a um procedimento neste momento – Isso já se faz de rotina para muitos casos, mas não tem indicação para tumores iniciais, onde a cirurgia é fundamental o que é um contrassenso esperar “ficar mais agressivo” ou “maior”.
Não podemos esquecer de que há critérios clínicos já muito praticados para que o paciente possa ser submetido a algum procedimento, como o fato de o paciente estar apresentando algum sintoma gripal, como tosse, coriza ou febre por exemplo. Não se faz cirurgia nessas condições, seja em meio ao COVID ou não! Ou seja, se estivermos diante de um paciente sintomático, a cirurgia está suspensa de qualquer modo. Quanto aos pacientes assintomáticos algumas opções são utilizadas, sendo a principal delas a realização do teste RT_PCR, o que já está sendo feito em muitos hospitais antes que o paciente seja submetido a algum procedimento. E onde não há a disponibilidade do teste? Respondo que está claro que tudo isso é dependente também da prevalência do COVID-19. Em locais onde a prevalência é baixa, pacientes assintomáticos são provavelmente a minoria o que dá mais segurança para que seja feito o procedimento, baseado na presença ou não de sintomas, além da história de contanto com alguém doente, lançado mão de um exame de imagem pulmonar, o que pode melhor a acurácia desse “rastreamento” pré operatório.
Existe um contra ponto. Toda vez que um paciente vem até mim, com um diagnóstico recente de um tumor, tento acalmá-lo no sentido de dizer que o mais importante nessa fase é a realização do estadiamento, ou seja, saber em que estágio o tumor encontra-se em seu corpo. Muitos deles ficam ansiosos achando que a realização desses exames vai atrasar ainda mais o tratamento, e se perguntam se posso fazer a cirurgia com urgência, ou até interná-lo para isso – prática que, aliás, condeno com veemência. Explico que o tumor não surgiu “de um dia para o outro”, e que estadiar com exames adequados é a coisa mais importante para o momento; é o que definirá tudo em seu tratamento. “Correr” para operar ou fazer qualquer tratamento de urgência, só cabe – como o nome já diz – em casos sintomáticos que estão piorando a vida dele. O contra ponto é: Não vamos esperar 3 meses fazendo exames!
É lógico que o tempo conta! Esperar muito para iniciar o tratamento interfere no prognóstico sim! E o quanto é esperar? Quanto tempo é “seguro” esperar? Essa é uma pergunta sem resposta concreta. A explicação vem do fato de que é muito mais importante ver a velocidade de crescimento tumoral do que simplesmente uma foto naquele determinado momento. É claro que para tumores maiores, se pressupõem que esteja ali há mais tempo, enquanto tumores menores, há menos tempo. Vamos ser sensatos nessa hora e fazer os exames o mais rápido possível, entre 1-2 semanas, definir o tratamento, e inicia-lo em mais 1-2 semanas. Ou seja, em 30 dias estamos iniciando o tratamento, seja cirúrgico, seja com quimioterapia ou radioterapia.
Finalizo dizendo que é muito importante que o paciente seja bem assessorado e conduzido nesse cenário. É preciso acalmá-lo nessas horas mais difíceis com conhecimento, afeto e bom senso. Não há certeza absoluta de nada; há fé, ciência e experiência para orientar e ajudar do modo mais seguro possível agora em tantos outras situações que nós, médicos e pacientes, iremos enfrentar juntos: médicos, amigos e familiares que permeiam esses tantos momentos durante a trajetória de cuidado de alguém.
Dúvidas? Entre em contato e agende uma consulta agora mesmo!
Fonte: Dr. Ranyell Spencer MD PhD
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