A DOR é uma experiência sensorial que sinaliza um dano, real ou potencial, em alguma parte do corpo. No caso de pacientes com câncer, a dor ocorre mais freqüentemente nos casos avançados. Entretanto, a dor pode ser o primeiro e único sinal de que algo está errado, como por exemplo um homem que tem dor lombar que é devida a presença de uma metástase óssea de câncer de próstata.
Geralmente, a dor oncológica (causada pelo câncer) ocorre quando o tumor se espalha e afeta outros órgãos e nervos. Para entender melhor a dor que você pode estar sentindo, uma descrição detalhada é necessária. Informações sobre causas de melhora ou piora, irradiação, relação com posicionamento, ou algum comportamento específico, ajudam muito a entender melhor o problema.
A maioria das pessoas já ouviu falar sobre “dor aguda” e “crônica”, e parece meio confuso quando nós médicos começamos a lançar novos nomes para o tipo de dor que alguns pacientes sentem, então, vamos falar um pouco mais sobre isso.
- A DOR SOMÁTICA é o resultado da ativação dos receptores da dor localizados tanto na superfície quanto na profundidade dos tecidos. Um exemplo de dor profunda seria a que os pacientes sentem nos ossos devido a presença de uma metástase. É caracterizada muitas vezes pelo fato de não se identificar muito bem o local da dor com precisão. Em contrapartida, um exemplo de dor superficial é a que ocorre na incisão cirúrgica. As pessoas descrevem essa dor como aguda e possivelmente apresentam uma sensação intensa em pontada.
- A DOR NEUROPÁTICA é frequentemente descrita como uma “sensação de queimação ou ardência e formigamento” em determinada região da pele ou profunda na coxa por exemplo. É causada por uma lesão em parte do Sistema Nervoso, podendo incluir uma área de pressão causada pelo tumor na medula espinhal ou os nervos mais periféricos. A quimioterapia ou a radiação também podem causar danos químicos ao sistema nervoso e serem responsáveis por muitos casos de dor neuropática.
- As vísceras são órgãos internos contidos em uma cavidade do corpo, como o tórax, abdômen e pelve. Assim, a DOR VISCERAL é a dor sentida em uma dessas áreas por estímulo de receptores de dor nesses órgãos. No câncer, a ativação dos receptores de dor pode ser causada por um tumor que pressiona um ou mais órgãos, por distensão de uma víscera ou a invasão de suas camadas. Esse tipo de dor é descrito como sendo uma sensação latejante ou em cólica.
O termo “dor somática” parece algo complicado, mas você provavelmente o conhece bem. Se você cortar a pele, a dor que você experimenta é chamada de dor somática. Você também sente dor somática se esticar um músculo demais, se exercitar por um longo período de tempo ou cair no chão e se machucar.
Uma vez estabelecido qual o tipo de dor, devemos dar seguimento e classificá-la em aguda ou crônica. A dor aguda refere-se àquela de curta duração e a causa pode ser facilmente identificada, como uma atividade que causa essa dor. A dor aguda pode ir e vir e pode aumentar com o tempo. O paciente não estava sentindo nada e de repente vem a dor, de modo súbito ou progressivo. Já a dor crônica é caracterizada por ter duração igual ou superior a três meses. Esse tipo de dor é de difícil tratamento. Isso ocorre, porque muitas vezes o paciente já vem usando alguma medicação e não consegue mais descrevê-la facilmente.
Durante a investigação de dor, devemos sempre lembrar do diagnóstico de alguns tumores. Por exemplo, às vezes uma simples dor lombar pode estar relacionada a um câncer de ovário ou de cólon. Já a dor no ombro pode ser um sintoma associado ao câncer de pulmão, enquanto uma cefaleia (dor de cabeça) que não passa e só piora, pode estar associada a tumores cerebrais (malignos e benignos).
A dor de estômago (ou dispepsia) é um sintoma muito vago, porque muitas doenças podem causar esse tipo de dor. Mas para pacientes acima de 40 anos, onde já se tentou o tratamento para gastrite, essa dor pode ser um sinal de alerta e estar relacionada a um câncer gástrico, de esôfago ou de pâncreas por exemplo.
Tratamento
A dor somática pode ser tratada de várias maneiras, a depender da gravidade da dor e de sua causa. Por exemplo, uma dor leve causada por uma cãibra muscular pode ser tratada de maneira muito diferente da dor intensa causada por um osso fraturado (quebrado). A maioria dos casos de dores menos intensas, responde bem a medicamentos vendidos sem receita, como TylenolR (paracetamol), Dipirona ou AINEs (anti-inflamatórios) como NimesulidR e CataflanR.
Uma grande diferença entre o TylenolR/Dipirona e os AINEs é que tanto o TylenolR quanto a dipirona não oferecem efeitos anti-inflamatórios, portanto, não ajudam no inchaço (edema) associado por exemplo. Tenha cuidado porque algumas pessoas não podem tomar AINEs devido a condições de saúde outras, como histórico de sangramento gastrointestinal, doença renal ou doença cardíaca. Caso você tenha algumas dessas condições clínicas, consulte um médico antes de usar tais medicações.
É importante sempre consultar seu médico antes de tomar qualquer medicamento, mesmo aqueles disponíveis sem receita.
Nos casos das dores somáticas musculoesquelética, relaxantes musculares como BaclofenR ou FlexerilR (ciclobenzaprina) podem ajudar nos sintomas. Já os chamados opióides, ou derivados (morfina, codeína e tramadol por exemplo) são reservados para dores mais intensas que não são aliviadas apenas com dipirona ou AINEs. Os opióides podem apresentar um grande risco de abuso e dependência química, e é por isso que são normalmente prescritos por curtos períodos de tempo e com receita controlada.
Lembre sempre de outras terapias associadas, como acupuntura, massagem e alongamentos que podem ajudar e muito no controle da dor. Procure um fisioterapeuta capacitado para auxiliar no tratamento, principalmente de lesões musculares ou ligamentares (das juntas e articulações).
O tratamento da dor neuropática envolve, primeiramente, abordar o problema subjacente. Por exemplo, se uma pessoa tem dor neuropática por causa do diabetes, otimizar o controle do açúcar no sangue (glicemia) é fundamental, no entanto, esse controle aprimorado da glicemia muitas vezes não reverte a neuropatia, mas pode impedir que ela piore e alivie os sintomas atuais.
Muitas vezes, além de tratar o problema subjacente, a medicação é frequentemente necessária para controlar a dor neuropática. Dito isso, vamos saber um pouco mais sobre os “medicamentos de primeira linha”, os que demonstram melhores resultados com menor taxa de efeito colateral.
Para a grande maioria dos pacientes, o tratamento da dor neuropática envolve uma das seguintes opções medicamentosas:
- Um antidepressivo como o duloxetin ou amitriptilina, e;
- Um medicamento anti-convulsivo como a gabapentina ou pregabalina.
Ambas essas classes de medicamentos são do tipo “tarja preta”, pois tem alguns riscos com seu uso como por exemplo sua capacidade de causar pensamentos e comportamentos suicidas. Se você ou alguém que você conhece receber um desses medicamentos, verifique os sinais e busque ajuda imediatamente se os perceber.
Algumas outras informações são importantes: 1) o início da ação na diminuição da dor não ocorre de imediato, e pode acontecer somente após 1 semana; 2) Esses medicamentos devem ser descontinuados gradualmente. A retirada pode ser desagradável e potencialmente perigosa em alguns casos.
Opióides como não são tão eficazes no tratamento da dor neuropática e, portanto, são considerados tratamentos de segunda linha. Além de seu benefício questionável, os opioides estão associados a vários efeitos colaterais que podem afetar a qualidade de vida de quem os toma Veja a tabela 1.
Tabela 1 – Efeitos Colaterais dos Opiódes
Sonolência | Tontura |
Constipação | Boca seca |
Náusea e vômito | Coceira (prurido) |
Aumento da transpiração | Respiração superficial e rápida |
Bradicardia (frequência cardíaca lenta) | Problemas de memória e pensamento |
Espasmos musculares involuntários | Retenção urinária (urina presa) |
Existem alguns tipos de dor neuropática que podem exigir um plano de tratamento único e diferenciado. Por exemplo, se a dor neuropática estiver localizada (confinada a uma pequena área), como geralmente ocorre na neuralgia pós-herpética (após herpes zoster), pode ser usada uma terapia tópica (na pele), como um adesivo de lidocaína. Em outros casos, a cirurgia pode ser necessária. Por exemplo, para liberar um nervo comprimido, como na síndrome do túnel do carpo; ou no caso de uma hérnia de disco, na qual um nervo espinhal inflamado é responsável por dor lombar, uma injeção epidural de corticóide pode ser aplicada diretamente coluna vertebral.
Finalmente, uma variedade de terapias complementares pode ajudar a aliviar a dor neuropática. Essas terapias são comumente usadas em combinação com medicamentos e incluem: a) Terapia física ou ocupacional; b) Estimulação elétrica; c) Relaxamento e alongamento; d) Acupuntura; e) Meditação, entre outros.
Concluo dizendo que tratar de dor crônica é muitas vezes desafiador e que existem profissionais especializados nisso. Geralmente atuamos em conjunto nos casos de pacientes com doença avançada, geralmente é a combinação de terapias que faz o melhor efeito. Fique atento a mudanças no padrão de alguma dor crônica, ou quanto a presença de sintomas associados como febre e perda de peso.
Para saber mais sobre o tema ou tirar dúvidas, agende uma consulta agora mesmo!
Escrito por: Dr. Ranyell Spencer MD PhD
- Texto adaptado de https://www.verywellhealth.com/what-is-somatic-pain-2564619
Related Posts
Sarcomas de Partes Moles – Parte 1
O sarcoma de partes moles pode ocorrer em qualquer parte do corpo, mas os locais mais comuns são os braços e as pernas (membros superiores e inferiores), sendo o abdômen o terceiro local mais comum.
Adenomas Hepáticos – O que são? Como tratar?
O câncer de cólon é uma das causas mais frequentes de mortes no Brasil, principalmente nas regiões sul e sudeste. A maioria dos cânceres no cólon se desenvolve a partir de pólipos, que são estruturas que se...